SÍNDROME DE HUBRIS – O LABIRINTO DO PODER

O LABIRINTO DO PODER

Hubris ou Hybris é um termo de origem grega, que faz alusão ao desmedido, arrogante,  ao que faz tudo e pensa poder fazer tudo sem ter em conta as consequências, um desafiador dos deuses. Nos tempos modernos dá origem ao que se chama a “doença do poder”, algo que se encontra entre o narcisismo e a psicopatia, a “SÍNDROME DE HUBRIS”.

A mente encerra em si mistérios. Labirintos onde o conhecimento que possuímos à luz da ciência contemporânea ainda não consegue chegar. São caminhos e atalhos que derivam sempre de um ou vários pontos de partida e que nos levam ao momento presente de uma personalidade. No entanto, não deixa de ser um universo fascinante, este da mente humana.

Tudo tem a sua causa-efeito na mente e o mesmo se passa com o poder. O poder excessivo pode desencadear uma resposta ou será que esses traços hubrísticos já lá estavam, inertes para depois se revelarem?

Pode ser até que seja um pouco dos dois. Ora vejamos, há certas características que fizeram com que A ou B se destacassem dos demais e alcançassem cargos de chefia ou poder, quer seja na direcção e liderança de empresas ou até na vida política. São lideres! Reúnem em si características à partida boas e positivas no que diz respeito aos outros, bem como a nível da competência, talento, inteligência e aptidão. Mas ao longo do caminho as coisas podem desproporcionar-se e agigantar-se. A exposição a esse ENORME PODER / responsabilidade / liderança / destaque / vassalagem por parte dos que os rodeiam / mordomias constantes / tratamento diferenciado / luxos inacessíveis ao normal ser humano / serem donos de uma opinião que é ouvida e seguida / admirados por todos quantos os rodeiam, entre outras coisas (a lista seria infindável) pode de facto transformar os detentores de cargos políticos de influência ou CEO’s de grandes empresas em “vitimas” da “Síndrome de Hubris”, a doença do poder.

Em 2009, um artigo publicado na revista Brain, deu a conhecer a posição de David Owen, médico e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros inglês que, em conjunto com o psiquiatra Jonathan Davidson, defendeu a existência de uma doença psiquiátrica, originada pelo exercício do poder. Também Er­nest Hemingway escreveu sobre esta temática concluindo que ao alcançar o poder ou sucesso intenso e extremo e exercendo-o durante um período de tempo considerável certos indivíduos “acreditam e sentem que estão a levar a cabo uma missão (…) e que esta está acima do bem e do mal.” acreditam serem distintos dos restantes seres humanos, ao nível de um messias.

A patologia de acordo com  os autores consultados e tal como referimos no inicio deste artigo, “partilha elementos com o narcisismo e a psicopatia, corresponde a um padrão de comportamento provocado pela exposição a um cargo de poder por um período variável de um a nove anos”, quanto mais o tempo passa mais intrínseco se torna.

Ao longo do tempo, os poderosos vão sendo engolidos pelo próprio poder.

Manifestam comportamentos exagerados, estranhos e aos poucos até mesmo fora do contexto real. Isto porque na Síndrome de Hubris, o sujeito vai perdendo mesmo o contacto com a realidade moral e social para se encapsular em si próprio considerando-se sempre “mais especial” ou  detentor da “melhor opinião”. O seu circulo social diminui podendo mesmo até extinguir-se porque “ninguém está à sua altura”, “ninguém é bom o suficiente” para que este encontre e se integre num grupo de  amigos. Se ele próprio é o orientador máximo, quem terá capacidade de lhe indicar seja o que for?

Um dos psicoterapêutas que contactámos para compor este artigo defende mesmo que “Neste mundo fantástico, perfeito e genial que estes sujeitos criaram e em que se “embriagaram com o seu próprio estatuto”, é frequente encontrarem-se completamente sós por rejeitarem tudo o que se encontre para lá da barreira da grandeza ou do seu estrato social e económico. Tornam-se arrogantes e socialmente inadequados, podendo até rejeitar o que se considera  como socialmente normal. Podem chegar a isolar-se do mundo por considerarem que nada nem ninguém está à sua altura e nada os satisfaz. Procuram então o próximo nível de satisfação, que já não existe. CHEGARAM AO TOPO. Como um videojogo em que não há mais níveis para avançar. Uma espécie de misto infernal entre ansiedade, tédio profundo e insatisfação. Podem surgir dependências ou abusos de álcool ou outras substâncias, comportamentos sexuais cada vez mais violentos ou até mesmo inadequados, podem mesmo chegar a ver outros seres humanos que consideram inferiores a si como objectos para a satisfação de uma qualquer necessidade momentânea. Perdem a capacidade de criar laços. As relações humanas tornam-se superficiais. Deixam de conseguir sentir empatia pelos outros. E creio que estes indivíduos entram em sofrimento embora jamais o admitam. Um sofrimento profundo que são incapazes de entender.”

David Owen, identificou sintomas e “doentes” com Síndrome de Húbris. A sua experiência foi compilada no livro:“The Hubris Syndrome: Bush, Blair & the Intoxication of Power”, bem como em artigos de revistas especializadas como a “Brain”.

Esta condição (não lhe chamemos propriamente doença) continua envolta num véu de nevoeiro pois ainda é pouco aprofundada, bem como as formas de tratamento ainda continuam muito subjectivas, dado a que é extremamente difícil que estes indivíduos procurem ajuda. “Isso implicaria sempre à partida admitir uma fraqueza, o que nestes casos é praticamente impossível. Se o individuo é por si só o maior e mais inteligente, parte da premissa que ninguém terá a capacidade de o ajudar.” – explica um psicoterapêuta.

Como conseguimos entender com tudo isto e através das leituras referidas acima, e no caso em particular de políticos ou CEO’s acabamos por entender que muitas vezes quem nos governa ou quem nos gere, já se distanciou demasiado da realidade do cidadão comum. Da minha, da sua, da NOSSA REALIDADE e da REALIDADE PROPRIAMENTE DITA. Por isso, é frequente a sociedade indignar-se com decisões que parecem somente satisfazer o capitalismo e é também comum o cidadão eleitor sentir-se incompreendido, desprezado ou relativizado.

Lembramo-nos de Donald Trump e da sua singularidade ao nível do ridículo, é obviamente um individuo que não tinha mais níveis para avançar na riqueza e no poder e que provavelmente viu na Presidência dos Estados Unidos da América uma saída para o seu labirinto mental de ego desmedido  ou do Presidente do Equador José Abdala Bucaram, que começou o seu mandato com a implementação de medidas sociais na tentativa de endireitar a situação económica no país. Porém, ao longo do tempo e concretizadas as suas realizações políticas, ele foi apresentando um comportamento cada vez mais bizarro. Criou seu próprio programa de TV, em que atormentava os espectadores com sessões de karaoke infinitas [!]; agiu com um grupo chamado “The Cardigans”, e até mesmo insistiu na contratação de Diego Armando Maradona como um conselheiro pessoal por um milhão de dólares por ano. Nesse ponto, o destino era inevitável e Bucaram foi destituído do cargo por “incapacidade mental”. E estes são apenas dois exemplos do que se sugere, e salvaguarda-se a palavra SUGERE que possam tratarem-se desta síndrome.

Não é incomum nesta condição que o afectado tenha atitudes altruístas ou de bondade, porém, parece fazê-lo sempre para enaltecer-se a si mesmo perante os outros e até perante o espelho.

Numa outra literatura, menos fundamentada, sugeria-se que se estes indivíduos fossem por alguma razão privados ou destituídos da sua aura de privilégios, sendo obrigados a viver “ao nível do cidadão comum da classe média” a maior parte deles entraria em tal estado de vergonha, desorientação, sofrimento mental e depressão que acabaria por cometer suicídio para não ter de admitir ou encarar a sua própria “queda”.

Malícia ou doença? Vítimas ou Culpados? Inocência ou premeditação? O que pensam vocês de tudo isto Ultras?

– por Equipa UltraFeminina

equipa.ultrafeminina@gmail.com

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